segunda-feira, 16 de novembro de 2015

II Etapa do Projeto visita cidades do Nordeste

Pira-Poré segue o caminho do Rio São Francisco

As andanças literárias continuam!

Depois das cidades mineiras de Pirapora e Itacarambi e de Carinhanha na Bahia, Pira-Poré se prepara para novas aventuras.

Na 2a. etapa do Projeto Cultural "As Aventuras de Pira-Poré", 84 escolas municipais das cidades de Petrolândia (Pernambuco), Penedo (Alagoas) e Propriá(Sergipe) receberão o livros e os alunos poderão conhecer o curumim Pira-Poré.

As visitas acontecerão no período de 30 de novembro a 05 de dezembro.


E o nosso registro fotográfico de viagem continua.
Confiram alguns momentos da nossa passagem por Carinhanha, na Bahia!


 

 









segunda-feira, 26 de outubro de 2015

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Pira-Poré faz festa em Pirapetinga! Contação de Histórias, Música e Brincadeiras

Encontro com alunos teve música, 
contação de histórias e brincadeiras

Foi um sucesso o encontro do Pira-Poré com os alunos da APAE e de escolas públicas municipais de Pirapetinga. 
O encontro aconteceu no dia 09 de setembro e contou a participação da equipe do Proler de Cataguases. 

Contação de histórias, música e brincadeiras marcaram a festa!!








segunda-feira, 7 de setembro de 2015

QUANDO A NOITE REINAVA NA TERRA

“Antigamente, não havia senão a noite e Deus pastoreava as estrelas no céu. Quando lhes dava mais alimento elas engordavam e a sua pança abarrotava de luz. Nesse tempo, todas as estrelas comiam, todas luziam de igual alegria. Os dias ainda não haviam nascido e, por isso, o Tempo caminhava com uma perna só. E tudo era tão lento no infinito firmamento!
Até que, no rebanho do pastor, nasceu uma estrela com ganância de ser maior que todas as outras. Essa estrela chamava-se Sol e cedo se apropriou dos pastos celestiais, expulsando para longe as outras estrelas que começaram a definhar.
Pela primeira vez houve estrelas que penaram e, magrinhas, foram engolidas pelo escuro. Mais e mais o Sol ostentava grandeza, vaidoso dos seus domínios e do seu nome tão masculino. Ele, então, se intitulou patrão de todos os astros, assumindo arrogâncias de centro do Universo. Não tardou a proclamar que ele é que tinha criado Deus.
O que sucedeu, na verdade, é que, com o Sol, assim soberano e imenso, tinha nascido o Dia. A Noite só se atrevia a aproximar-se quando o Sol, cansado, se ia deitar. Com o Dia, os homens esqueceram-se dos tempos infinitos em que todas as estrelas brilhavam de igual felicidade. E esqueceram a lição da Noite que sempre tinha sido rainha sem nunca ter que reinar.”

MIA COUTO, no livro  “A confissão da leoa"

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Curupira

“Essa história aconteceu numa noite de lua cheia. Uns diz que é superstição, coisa da roça, mas otros diz que não, que isso aconteceu. Quem teve lá me contou essa história assim. E disse: ‘Juro que vi!’“






terça-feira, 7 de julho de 2015

COMO NASCEU A ALEGRIA

COMO NASCEU A ALEGRIA

Rubem Alves


Você pode não acreditar, mas é verdade: muitos anos atrás a terra era um jardim maravilhoso. É que os anjos, ajudados pelos elefantes, regavam tudo, com regadores cheios de água que eles tiravam das nuvens. Esta era a sua primeira tarefa, todo dia. Se esquecessem, todas as plantas morreriam, secas, estorricadas... Para que isso não acontecesse, Deus chamou o galo e lhe disse: - Galo, logo que o sol aparecer, bem cedinho, trate de cantar bem alto para que os anjos e os elefantes acordem... E é por isto que, ainda hoje, os galos cantam de manhã... Flores havia aos milhares. Todas eram lindas. Mas, infelizmente, todas elas eram igualmente vaidosas e cada uma pensava ser a mais bela.E, exibindo as suas pétalas, umas para as outras, elas se perguntavam, sem parar: - Não sou a mais linda de todas?Até pareciam a madrasta da Branca de Neve. Por causa da vaidade, nenhuma delas ouvia o que as outras diziam e nem percebiam que todas eram igualmente belas.Por isso, todas ficavam sem resposta. E eram, assim, belas e infelizes. No meio de tanta beleza infeliz, entretanto, certo dia uma coisa inesperada aconteceu. Uma florinha, que estava crescendo dentro de um botão, e que deveria ser igualmente bela e infeliz, cortou uma de suas pétalas num espinho, ao nascer. A florinha nem ligou e vivia muito feliz com sua pétala partida. Ela não doía. Era uma pétala macia. Era amiga. Até que ela começou a notar que as outras flores a olhavam com olhos espantados. E percebeu, então, que era diferente. - Por que é que as outras flores me olham assim, papai, com tanto espanto, olhos tão fixos na minha pétala...? - Por que será? Que é que você acha?,perguntou o pai. Na verdade, ele bem sabia de tudo. Mas ele não queria dizer. Queria que a florinha tivesse coragem para olhar para as vaidosas e amar a sua pétala. - Acho que é porque eu sou meio esquisita..., a florinha respondeu. E ela foi ficando triste, triste... Não por causa da sua pétala rachada, mas por causa dos olhos das outras flores. - Já estou cansada de explicar. Eu nasci assim... Mas elas perguntam, perguntam, perguntam... Até que ela chorou.Coisa que nunca tinha acontecido com as flores belas e infelizes. A terra levou um susto quando sentiu o pingo de uma lágrima quente, porque as outras flores não choravam. E ela chamou a árvore e lhe contou baixinho: - A florinha está chorando. E a terra chorou também. A árvore chamou os pássaros e lhes contou o que estava acontecendo. E, enquanto falava, foi

murchando, esticando seus galhos num longo lamento, e continua a chorar até hoje, à beira dos rios e dos lagos, aquela árvore triste que tem o nome de chorão. E das pontas dos seus galhos correram as lágrimas que se transformaram num fiozinho de água...Os pássaros voaram até as nuvens. - Nuvens, a florinha está chorando. E choraram lágrimas que se transformaram em pingos de chuva... As nuvens choraram também, juntando-se aos pássaros numa chuva enorme, choro do céu.As lágrimas das nuvens molharam as camisolas dos anjinhos que brincavam no céu macio. E quiseram saber o que estava acontecendo. E quando souberam que a florinha estava chorando, choraram também... E Deus, que era uma flor, começou a chorar também. E a sua dor foi tão grande que, devagarinho, como se fosse espinho, ela foi cortando uma de suas pétalas. E Deus ficou tal e qual a florzinha. E aquele choro todo, da terra, das árvores, dos pássaros, dos anjos, de Deus, virou chuva, como nunca havia caído. O sol, sempre amigo e brincalhão, não agüentou ver tanta tristeza. Chorou também. E a sua boca triste virou o arco-íris... E as chuvas viraram rios e os rios viraram mares. Nos rios nasceram peixes pequenos. Nos mares apareceram os peixes grandes. A florinha abriu os olhos e se espantou com todo aquele reboliço. Nunca pensou que fosse tão querida. E a sua tristeza foi virando, lá dentro, uma espécie de cócega no coração, e sua boca se entortou para cima, num riso gostoso... E foi então que aconteceu o milagre. As flores belas e infelizes não tinham perfume, porque nunca riam. Quando a florinha sorriu, pela primeira vez, o perfume bom da flor apareceu. O perfume é o sorriso da flor. E o perfume foi chamando bichos e mais bichos... Vieram as abelhas... Vieram os beija-flores... Vieram as borboletas... Vieram as crianças. Um a um, beijaram a única flor perfumada, a flor que sabia sorrir. E sentiram, pela primeira vez, que a florzinha, lá dentro do seu sorriso, era doce, virava mel... Esta é a estória do nascimento da alegria. De como a tristeza saiu do choro, do choro surgiu o riso e o riso virou perfume. A florzinha não se esqueceu de sua pétala partida. Só que, deste dia em diante, ela não mais sofria ao olhar para ela, mas a agradava, como boa amiga. Quanto aos regadores dos anjos, nunca mais foram usados. De vez em quando, olhando para as nuvens, a gente vê um deles, guardado lá dentro, já velho e coberto de teias de aranha... Enquanto a florzinha de pétala partida estiver neste mundo, a chuva continuará a cair e o brinquedo de roda em volta do seu sorriso e do seu perfume não terá fim..

terça-feira, 30 de junho de 2015

AS CORES DOS PÁSSAROS

 Rouxinol 

Estando sua obra praticamente concluída, Deus foi, com os anjos, fazer a vistoria. Estava tudo uma beleza: as montanhas, os rios, os lagos, as árvores... As flores! Ah, que cores, que perfumes!

Mas havia um detalhe que destoava do resto. É que os pássaros, apesar de terem tamanhos variados e asas diferentes, eram iguais numa coisa: todos eram da mesma cor, uma marronzinho, assim, sem graça, sem definição, nem claro nem escuro, uma cor sem nenhum cuidado.

E Deus falou para os anjos:

- Estes passarinhos... Eles não estão combinando com o resto da paisagem... Poderíamos dar um colorido a eles. O que vocês acham?

Os anjos concordaram imediatamente.

Gabriel encarregou-se de avisar a todos que, tal dia, em tal hora, deveriam comparecer para o trabalho de acabamento. No dia e na hora marcada, Deus chegou acompanhado de Gabriel. Sua paleta de cores era deslumbrante, com cores que ele inventara especialmente para a ocasião.

Gabriel começava a chamar os pássaros, quando uma gralha brincalhona lhe roubou a lista, e sem querer, a rasgou. E agora, como fazer? Mas eram tatos pássaros... Certamente não faltaria nenhum. Os pássaros colocaram-se em fila, e o trabalho começou.

A primeira da fila era a arara. Quando viu a paleta, a arara não se conteve:

- Eu quero um pouco deste azul, um pouco deste amarelo, deste vermelho, deste verde... Tudo... Quero muito de tudo!

Deus fez como ela quis. E ela saiu dali chamando a atenção de todos.

Quando o pássaro-preto, que ainda não era preto, viu aquilo, disse:

- Ah, isso não. Isso eu não quero! Prefiro algo mais sóbrio: um preto luminoso.

E Deus atendeu o seu pedido.

E vieram os outros pássaros: beija-flores, colibris, periquitos...

O canarinho, todo entusiasmado, logo foi dizendo:

- Ai, adora amarelo! Quero tudo amarelo!

E, no final do dia, quase todos os pássaros já estavam pintados.

A saíra-de-sete-cores, vendo que já não restava muita tinha, esfregou-se na paleta. Saiu toda pintada, e é por isso que tem esse nome.

Deus já organizava os pincéis para voltar para casa, quando viu o rouxinol, chegando apressado.

- Ah, desculpe-me o atraso, mas fui o último a ser avisado e sou o que mora mais longe... Também quero ser pintado.

Mas não havia mais tinta na paleta. Nada, nadinha!

- Ah, mas e eu? Eu vou ficar feio...

Deus olhou para a paleta, olhou os pincéis e viu que restara apenas uma pequena gota de dourado. Pediu então ao rouxinol que pousasse no seu dedo e abrisse o bico. E, com a gotinha de dourado, pintou a garganta do rouxinol.

“Ah, não”, pensou o rouxinol. “Na garganta, ninguém vai ver! Eu continuo feio.” Mas como não podia reclamar com o Senhor Deus, foi-se embora, decepcionado. E ficou amuado, num galho escondido, vendo aquela revoada de pássaros coloridos. Porém, quando abriu o bico, o canto que saiu de sua garganta era inigualável. Era ouro puro, e todos pararam para ouvi-lo. 


QUANDO A NOITE REINAVA NA TERRA


Mia Couto
“Antigamente, não havia senão a noite e Deus pastoreava as estrelas no céu. Quando lhes dava mais alimento elas engordavam e a sua pança abarrotava de luz. Nesse tempo, todas as estrelas comiam, todas luziam de igual alegria. Os dias ainda não haviam nascido e, por isso, o Tempo caminhava com uma perna só. E tudo era tão lento no infinito firmamento!
Até que, no rebanho do pastor, nasceu uma estrela com ganância de ser maior que todas as outras. Essa estrela chamava-se Sol e cedo se apropriou dos pastos celestiais, expulsando para longe as outras estrelas que começaram a definhar.
Pela primeira vez houve estrelas que penaram e, magrinhas, foram engolidas pelo escuro. Mais e mais o Sol ostentava grandeza, vaidoso dos seus domínios e do seu nome tão masculino. Ele, então, se intitulou patrão de todos os astros, assumindo arrogâncias de centro do Universo. Não tardou a proclamar que ele é que tinha criado Deus.
O que sucedeu, na verdade, é que, com o Sol, assim soberano e imenso, tinha nascido o Dia. A Noite só se atrevia a aproximar-se quando o Sol, cansado, se ia deitar. Com o Dia, os homens esqueceram-se dos tempos infinitos em que todas as estrelas brilhavam de igual felicidade. E esqueceram a lição da Noite que sempre tinha sido rainha sem nunca ter que reinar.”

MIA COUTO, no livro  “A confissão da leoa